O Oscar está se tornando cada vez mais previsível, especialmente após o anúncio dos indicados deste ano, onde se tornou evidente o favoritismo da Academia por “Oppenheimer”. Como uma receita de bolo infalível, o filme reúne todos os elementos necessários para conquistar a estatueta tão cobiçada.
Assim como na elaboração de um bolo perfeito em Hollywood, a criação de um filme de sucesso requer apenas alguns ingredientes essenciais: uma biografia envolvente, um cenário de guerra impactante, um elenco estelar e uma pitada de redenção. A utilização tanto da jornada do herói quanto do anti-herói em uma mesma narrativa foi fundamental para que “Oppenheimer” conquistasse sete estatuetas: Melhor filme, Melhor ator, com Cillian Murphy; Melhor ator coadjuvante, com Robert Downey Jr., Melhor direção, com Christopher Nolan; e os prêmios de Melhor fotografia, Melhor trilha sonora e Melhor montagem.
O renomado diretor Christopher Nolan assumiu a responsabilidade de adaptar a história do “pai da bomba atômica” para o cinema. O filme romantiza a historia de Robert Oppenheimer, físico teórico e diretor científico do Projeto Manhattan durante a Segunda Guerra Mundial, os quais são modificados ou aumentados para se alinharem à narrativa desejada pelo diretor.
Oppenheimer é uma figura cuja história transcende as fronteiras da ciência para adentrar os domínios da ética, da moral e da política. Sua consciência aguçada e seu papel central no desenvolvimento da bomba atômica o coloca em uma posição peculiar na história da humanidade, cujas nuances ainda ecoam nas reflexões sobre o uso da ciência para fins militares.
Ao revisitar o legado de Oppenheimer, somos confrontados com um homem imerso em contradições e dilemas morais. Sua participação ativa no Projeto Manhattan, cujo objetivo era desenvolver uma bomba atômica, colidiu com suas “preocupações” éticas sobre as consequências catastróficas do uso desse armamento. Oppenheimer, sem dúvida, foi plenamente consciente das implicações de suas ações, monitorando o potencial devastador da bomba atômica tanto em termos humanitários quanto políticos.
No entanto, a narrativa em torno de Oppenheimer, especialmente no contexto da indústria científica contemporânea, muitas vezes apresenta uma imagem simplificada e estereotipada. Filmes como “Oppenheimer”, baseado no livro “American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer”, de Kai Bird e Martin J. Sherwin, tendem a retratá-lo como um “coitado arrependido”, destacando seu dilema moral e seu eventual remorso.
Essa representação cinematográfica de Oppenheimer, embora possa ter seus méritos artísticos e narrativos, muitas vezes simplifica questões complexas e omite nuances importantes de sua vida e de suas decisões. A verdadeira história de Oppenheimer é uma jornada intrincada de ética, responsabilidade e dilemas morais, que desafia as noções casuais de heróis e vilões.
Além disso, é importante reconhecer o papel dos cineastas e da indústria cinematográfica na criação e na perpetuação de narrativas simplificadas sobre figuras históricas complexas como Oppenheimer. O uso de técnicas cinematográficas, como a escolha estilística de filmar em IMAX preto e branco e a criação de uma trilha sonora impecável, pode contribuir para uma representação estilizada e idealizada da vida e das escolhas de Oppenheimer, vulgo passar pano.
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